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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

McTese Feliz! (Supersizing)

Fonte: http://ragamuffinsoul.com/
Recebi um excelente artigo do amigo Fernando Franca publicado na revista Pragmatismo Político (AQUI). Em julho deste ano a revista em questão discutiu um tema relevante, abordado vários momentos aqui neste blog: a doença da normalidade que assola a produção de conhecimentos acadêmicos. 

Podemos imaginar Peter Higgs, vencedor do Prêmio Nobel de Física de 2013, num mundo acadêmico envolto pelo fantasma do "produza ou pereça"? Onde estão as ideias originais que necessitam de tempo de maturação para aprimoramento? Com sistemas de avaliação cada vez mais focados em produtividade a "normose" acadêmica faz como vítima o próprio conhecimento. Randy Schekman, Prêmio Nobel de Medicina deste ano, argumenta que a pressa intensifica a improbabilidade de opção por trabalhos mais relevantes em detrimento da perseguição aos campos científicos da moda. Schekman vai além ao afirmar que devemos evitar de avaliar o mérito acadêmico pela produção de artigos.

Os ex-ganhadores de Nobel Prizes destacam que a qualidade das pesquisas são influenciadas diretamente pela meritocracia produtivista dos sistemas de avaliação de pesquisadores e pelos professores dos programas de pós-graduação que impedem os discentes de percorrer caminhos mais incômodos. Esse sistema os transforma em meros burocratas da produção de replicações científicas. A exigência de produção é um estímulo retroalimentador do status quo, reforçando a mensagem subliminar de que fugir ao normal é perigoso. Em outras palavras, os pesquisadores não devem trocar o certo pelo duvidoso, não sendo incentivados a tomar caminhos mais arriscados.

Ao que parece, a meritocracia produtivista traz as ilusões de progresso e eficiência que não podem nunca se realizar. Isso porque a própria burocracia se tornou uma força modeladora inescapável, orientando as ações dos acadêmicos. Os meios se tornaram fins. E agora somos burocratas avessos aos riscos e às mudanças.

Isso me faz lembrar as palavras do pensador Milton Santos, também utilizado por este blog: até quando escolheremos o produtivismo estéril por simples legitimação profissional?

Vale a pena a leitura do texto e também uma boa dose de discussão.

Rodrigo Ávila

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