Ambiente virtual de debate metodológico em Ciência da Informação, pesquisa científica e produção social de conhecimento

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Gestão e democratização da informação científica

Nos filmes estadunidenses o conhecimento científico de ponta sempre aparece gerido/disputado por dois setores: militares e/ou grandes indústrias de tecnologia. O conhecimento científico brasileiro é produzido, em sua esmagadora maioria, no seio de instituições públicas (em grande parte nas universidades) com dinheiro público. É de se imaginar, portanto, que é parte das obrigações do poder público democratizar ao máximo não só o acesso a tais informações, como também os meios (muitas vezes representados por tal acesso) que permitam avançar na construção de novos conhecimentos científicos e assim por diante.

Há cerca de 50 dias presenciei uma excelente atividade de vulgarização de conhecimento para o cidadão não especializado, conforme relatei em post no blog de Diplomática e Tipologia aqui.


Recentemente, ao abrir o e-mail fui, surpreendido com uma mensagem de meu colega Emir Suaiden, diretor do Ibict, repassando uma nota muito forte, na qual se reafirmava a importância da instituição para, entre outras coisas, justamente, ajudar na democratização e deselitização do saber no Brasil. Depois vim a entender que o texto fora feito em defesa a uma "petição" altamente difamatória, apenas com acusações não embasadas. É muito fácil criticar sem fundamentar. A "petição" que inciou a querela beira a covardia ao se utilizar das mídias sociais sem nenhuma argumentação às acusações. São duas afirmações secas seguidas por 5 questões não respondidas, em pouco mais do que 10 linhas:
Ao longo dos últimos 10 anos o IBICT vem perdedo a sua representatividade junto à comunidade científica brasileira e internacional, por conta da sua expressiva falta de atuação nas iniciativas mais importantes objetos de sua missão institucional. Essa fraca participação institucional provocou o seu enfraquecimento como instituição importante na condução de projetos da área. Como resultado, o que representa hoje o IBICT no seio da comunidade científica brasileira? O que faz hoje o IBICT em prol da informação científica e tecnológica? Quem conduz hoje as principais iniciativas em prol dos pesquisadores brasileiros? Por que o CCN parou no tempo? Existe alguma liderança, no Brasil, preocupada com a informação científica? Enfim, há diversas questões no ar sem respostas.
(Helio K - "Salvem o Ibict" em http://www.avaaz.org/po/)
O texto de defesa repassado por Emir Suaiden foi escrito por Anaiza Gaspar e ajuda a ampliar a reflexão sobre o que se quer quanto à institucionalização da ciência no Brasil:
Cuidado com as petições do Avaaz!! Saiu por ai uma petição para salvar o IBICT que não está ameaçado de nada, muito menos do desvirtuamento de sua missão, a não ser na cabeça do sr. Hélio Kuramoto, que reproduz o modelo concentrador do mundo real onde acredita que a informação cientifica e tecnológica é privilégio da comunidade acadêmica, circulando apenas entre seus pares. O IBICT na última década adotou programas de inclusão social e digital e dissemina informações científicas em linguagem popular em muitos desses projetos - o Canal Ciência é um exemplo. Do que se queixa o Dr. Hélio Kuramoto? Por acaso a informação científica deixa de ser científica quando colocada em linguagem acessível a população? O sr. Hélio Kuramoto foi um funcionário do IBICT com bons serviços prestados, mas hoje está aposentado e parece que guarda muita amargura no coração. Foi candidato a diretor do IBICT e não foi escolhido. Quantos de nós não tivemos sonhos que não se realizaram? Nós os funcionários do IBICT fomos surpreendidos com esta petição estapafúrdia de "Salvem o IBICT" pois estamos trabalhando todos os dias com muita dedicação e convicção e merecemos respeito pois tudo que almejamos é estar prestando nossos serviços à sociedade com dignidade e seriedade. O que sabem do IBICT as pessoas que assinam esta petição? O cumprimento da missão do IBICT pode ser avaliado unicamente pela opinião do Dr. Kuramoto? e isto lhe dá ensejo para criação de uma petição popular? Um novo edital sairá em breve para a escolha do diretor do IBICT que é colocada de forma democrática pelo MCTI para que os interessados apresentem suas candidaturas, então o Sr. Kuramoto poderá se candidatar outra vez. Que o faça, portanto, e exponha suas ideias nessa oportunidade e não venha a utilizar um instrumento de reivindicações sociais com fins eleitoreiros. Assim fazendo acaba de desacreditar o Avaaz como instrumento social que não deveria se prestar a esses fins. Na verdade, devo confessar que apesar de ter sido uma apoiadora do Avaaz a partir de agora olharei com bastante cautela e desconfiança suas petições. Se alguém liderar uma campanha para queimar minha casa ou denegrir minha reputação vou me defender como dos apoiadores de causas sociais que surgem do nada? Fico pensando em como isso reproduz as piores práticas do autoritarismo posto que as pessoas não têm informações suficientes para assinar petições desse tipo. É triste, porque a Internet devolve às pessoas o mundo onde que estas se espelham em relações momentâneas, e lhe devolvem o que elas esperam ver sem que alguém tenha que provar nada. É informação demais e as pessoas não têm tempo para tanto, estão cansadas. Quem fica imerso e conectado precisa de informações com um mínimo de possibilidade dessas informações serem validadas pois o que restará a quem é citada e não está nesta rede? Pensando assim vejo que a promessa original do Avaaz de dar voz as causas sociais não se concretizará, ao contrário, mergulhará as pessoas em uma bolha que se auto replica e aumenta o radicalismo. O diagnóstico então é sombrio, porque existe uma concentração nessas ferramentas que determinam o que será a sua oportunidade de escolha. O que acham?
(Anaiza Gaspar por e-mail)
Não tenho nenhuma certeza sobre o quanto daquilo que Anaiza indica estar sendo realmente efetivado, mas sei que (apenas para citar duas realidades inquestionáveis) o banco nacional de teses e a popularização das plataformas SEER para gestão de periódicos científicos de qualidade e não elitizados revelam um importante avanço na direção da democratização do conhecimento em um país tão desigual e tão restritivo em termos dos saberes. 

O objetivo deste post é fomentar a reflexão sobre a institucionalização da ciência no Brasil e a necessária ampliação do acesso a seus resultados e insumos. Porém a tentativa de desmoralização sensacionalista sofrida por uma instituição que têm trabalhado muito seriamente me levou também a assinar manifesto de defesa feito por Anaíza Gaspar (acesso aqui).

Se você quiser participar mais ativamente da questão pode assinar também a petição aqui, mas não se esqueça, ainda, de exprimir sua opinião nesse blog; ela será muito benvinda.

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