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terça-feira, 22 de março de 2011

Trocando os pés pelas mãos - o fim do PROF


Conforme já anunciado antes por esse blog, em primeira mão (ver aqui), a informação de que a CAPES extinguirá o programa que sustenta a pós-graduação na UnB, o PROF, está confirmada. Na tarde de hoje, por convocação do Decanato de Pesquisa e Pós-graduação, estiveram reunidos os coordenadores dos quase 60 programas de pós-graduação da UnB, para começar a pensar em novas estratégias de sobrevivência para a pesquisa e formação em ciência e inovação em uma das mais importantes instituição federal de ensino superior. Pela extinção do PROF, o corte ao custeio de pesquisa será da ordem de 40%, mesmo para aqueles programas que nos últimos 3 anos tiveram uma avaliação de excelência e passaram a integrar o restrito grupo da nota 5. Os programas mais seletos ainda, nota 6 e 7, têm uma linha de financiamento específica. Tampouco houve incremento nas quantidades de bolsas, apesar do crescimento da pós-graduação no Brasil e apesar do exitoso "pibão". 

O impacto geral dos recentes cortes das contas públicas junto ao MEC foi da ordem de 10%, porém, no financiamento da pós-graduação a facada foi bem maior: 15%. Na UnB, algumas medidas drásticas já estão sendo tomadas, como, por exemplo, a não composição de bancas de mestrado com pesquisadores que requeiram gastos de deslocamento e diárias. Com isso a instituição vê-se obrigada a fechar-se para contatos  importantes e frutíferos intercâmbios de idéias e pesquisas com renomadas instituições, como, por exemplo, as universidades paulistas, no nível do mestrado. O esforço de alguns programas na consolidação de grupos de pesquisa (reconhecidos pelo CNPq) também dá um passo atrás, na medida que com possibilidades de intercâmbio mais restritas, a aceitação, a inclusão e, sobretudo, o trabalho colaborativo de pesquisadores de outras instituições em nossos grupos será, no mínimo, mais difícil. Em heróicos esforços de manutenção da qualidade, sei de  alguns desprendidos colegas que estão pagando do próprio bolso as despesas referentes a efetivação de arguidores externos. Sei de alunos que fizeram financiamento para poder participar, como expositores de trabalhos, em congressos internacionais, relevantes, levando o nome da UnB (e aumentando a produção de indicativos do CT&I do nosso amado governo). 

Paralelamente a esse movimento de interrupção da universidade, assistimos ao presidente Obama parabenizar ao Brasil pela Copa e pelas Olimpíadas de Verão (que deveremos!). No mesmo dia em que os coordenadores de programa foram obrigados a verem "cair a ficha" da extinção do PROF, a imprensa nacional, para arroubo de alguns auto-denominados "patriotas", noticiou que as bolsas da CAPES, criadas para sustentar a pesquisa em pós-graduação no Brasil, serão outorgadas a professores da educação básica (ver notícia aqui). Por essa mesma lógica, um pai de família que tivesse muitos filhos poderia comprar apenas roupa para um deles e ir fazendo rodízio. Assim, agora tiram-se as bolsas da universidade e passam-nas à educação básica... A matemágica tem ainda uma grande sacada embutida: o valor hoje da bolsa é insuficiente para viabilizar o papel científico previsto, porém bastante significativo para um professor da educação básica. Assim além de, pouco a pouco, ir calando os "chatos" da academia, caminha-se um pouco mais para a redução das desigualdades sociais sem, sequer ter que rever os valores das bolsas e sem mexer no salário da educação básica. Nem David Copperfield seria tão picareta.

Elocubrando a partir de algumas idéias do colega Flávio Sombra, que defende a tese de que o Brasil tem uma perna manca que atravanca o crescimento (ver aqui), fica a impressão de que, com as recentes medidas, o que nossos governantes ilustrados estão tentando fazer é fortalecer a perna manca à custa da amputação da perna boa. Será que não dava para fortalecer a perna manca à custa do aumento de 26,5% dos nossos representantes legislativos? Delfim falava em fazer crescer o bolo para depois dividir. O que vimos agora foi o sumiço do bolo e o sucateamento da capacidade de fazer mais bolos.

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